A CHAMA

Estava frio em São Paulo, e eu não pude escapar, fiquei ali a mercê de uns trocados para ter com o que me alimentar.
Estava realmente muito frio, eu pude reparar, ao  olhar meus dedos por detrás de toda aquela sujeira que em mim se acumulava, estavam roxos. Dentes rangendo, calafrios involuntários, estava completamente empedrado, um verdadeiro gelo humano. Era morador de rua sim, e não tinha a quem recorrer, então desde já me desculpo se em algum dia já abordei você.
Eu queria (e como queria) alguma forma de me aquecer, apenas papelões não eram nem de longe suficientes. Eu procurei albergues, não havia mais lugar. Eu procurei trocados, não havia ninguém nas ruas para me ajudar. Estava sozinho afinal, como sempre acontecia. Mas você deve estar se perguntando " O que houve com sua família? Todos temos, onde está a sua?". Não é algo tão fácil assim, sei que fui completamente burro por me deixar levar, meus amigos (provavelmente mortos ou presos atualmente) me indicaram um caminho. A faculdade era bem chata, eu já não a suportava, assim como  não suportava mais aquela casa. E todas aquelas novidades que me mostravam me fascinavam. O mundo de repente tinha perdido todo aquele fardo. E eu deixei que aquela luz me levasse, e ela me dizia que família só geraria encrenca. Fui embora sem consentimento de meus pais. Não fui capaz de ver suas lágrimas, seus gritos, e nem depois a sua mudança, apenas fui com intuito de não voltar nunca mais. E deixei que o tempo e a luz me guiassem, pura bobagem! Quando a bendita luz se apagou eu fiquei, não tinha para onde correr. É por isso que aqui estou para deixar uma mensagem a você caro leitor NÃO DEPENDA DO TEMPO PARA ALCANÇAR AQUILO QUE ALMEJA, DEPENDER DO TEMPO NÃO SE TRATA DE UMA VIRTUDE E SIM DE UMA FRAQUEZA. Eu apenas percebi isto quando meu ultimo pedaço estava prestes a virar pó, antes de tudo virar breu, e eu já não existir mais. Foi  em uma quinta - feira, fazia cerca de 3ºC, como de costume eu estava faminto e sem quaisquer perspectiva de que aquele inferno gelado passasse para meu alivio. Foi então que dois jovens se achegaram junto a mim, com uma sacola preta. Mas que felicidade eu pensei, supostamente seria comida! 
- Você está com frio meu senhor? - me perguntaram.
- E como, vocês não? - como podia não estarem?
- Sim, mas resolvemos ser solidários com todos os outros vermes como você que sujam nossa cidade, acabaremos não só com seu frio mas com você também. - VERME- foi tudo o que ouvi antes de tudo acontecer
Em lampejos de luzes, eu a vi novamente, a desgraçada da luz que só me fizera mal, ela não morrera afinal, ela voltara mais viva do que nunca, a luz já não era luz, era chamas. Foi por estas chamas que minha vida atravessara, uma vida que já não era vida, e agora já não era nada!

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